Fui conhecer um novo cruzeiro no Pantanal disponível com partidas regulares de novembro a março e para fretamento ao longo do ano.
A temporada de cruzeiros coincide com o período de cheia, fenômeno único que transforma o Pantanal. É verdade que durante a estação seca os animais terrestres são mais fáceis de avistar, mas para ver a maior região alagável do mundo em toda a sua exuberância, a estação das cheias é o momento de visitar e o cruzeiro é uma ótima maneira de explora-la. A água cobre quase 80% da planície pantaneira, enchendo canais, baías, corixos, mudando o cenário, o dia-a-dia das famílias locais e até os animais encontrados lá, quando milhares de aves migratórias chegam do hemisfério norte.
Corumbá, o porto de embarque e desembarque, é uma pequena cidade na fronteira com a Bolívia. Apenas a Azul voa para Corumbá, de Campinas (São Paulo), um voo diário, alguns dias por semana. A outra opção é voar para Campo Grande, e pegar um ônibus ou transporte particular para Corumbá, a 5 horas de distância. É a porta de entrada para todos os cruzeiros de pesca e ecoturismo no Pantanal Sul, devido à sua localização estratégica nas margens do rio Paraguai, a principal artéria da bacia hidrográfica do Pantanal. O rio é grande o suficiente para um barco desse tamanho e, como você verá neste relatório, pode chegar rapidamente a algumas das áreas mais interessantes da região. A única desvantagem é que a cidade é servida apenas por uma companhia aérea; se o voo for cancelado, a alternativa é o aeroporto de Campo Grande.
Nas saídas regulares há um guia para cada 8 viajantes. Durante os passeios, o guia entra em um dos barcos com 4 passageiros, os outros 4 são acompanhados apenas do barqueiro. Toda vez que o guia faz uma explicação, os dois barcos se juntam. No próximo passeio, os passageiros trocam de barco. Para fretamentos, eles usam a mesma proporção, a menos que o cliente queira mais guias.
O Comodoro foi recentemente totalmente reformado. É um dos melhores, mais confortáveis e disputados barcos para grupos de pesca, permitida no Pantanal entre abril e outubro. Possui 3 decks divididos em:
Convés inferior: Cabines de tripulação, cozinha, bar, sala de jantar e sala de estar, sala de TV, sala de jogos, deck de proa e uma plataforma de popa para acessar os barcos de turismo.
Convés do meio: 15 cabines, uma pequena sala de ginástica e o comando
Convés superior: Bar, piscina, jacuzzi, terraço, chuveiro ao ar livre
Há um elevador que serve todos os andares. O barco é equipado com um moderno sistema de navegação e tratamento de água.
As cabines são bastante espaçosas, em comparação com outros barcos de cruzeiros fluviais no Brasil. Eles têm 7,5m², grandes o suficiente para 2 camas de solteiro que podem ser unidas em uma de casal, u armário de prateleiras, uma mesa lateral e um pufe. Todos têm varanda privativa com duas cadeiras, ar condicionado, cortina elétrica, banheiro de bom tamanho e água quente. Algumas cabines são um pouco maiores, permitindo a adição de uma pequena cama dobrável, para uma família com um filho. Não há internet a bordo e o sinal de celular só está disponível próximo a Corumbá.
Eles têm dois itinerários, um chamado ÁGUA, focado nas águas do Pantanal, e o outro chamado TERRA, que tem um dia de passeio terrestre na Estrada Parque. Minha experiência foi no cruzeiro Água, o que eu tinha mais curiosidade de conhecer, e aqui está o porquê:
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Dia 1
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Após a chegada ao aeroporto de Corumbá, fomos recebidos pelo guia e imediatamente levados de ônibus a um restaurante local para um buffet de almoço. Tivemos a tarde livre no hotel Nacional, uma opção simples, mas confortável, que é a melhor da cidade. Às 5:30, nossa noite começou em um bar com vista para o rio Paraguai e o Pantanal; depois, jantamos no Dolce Café um menu de degustação que incluía pratos regionais, alguns mais saborosos que outros. No pacote regular, apenas a diária no hotel está incluída, a noite é livre para jantar onde quiser, mas essa é uma boa escolha de restaurante na cidade. Experimente o lombo de jacaré, de fazendas de jacaré autorizadas. Estava delicioso!
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Dia 2
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Após o café da manhã, tivemos um tour interpretativo a pé pela cidade. Um ator interpretou alguns personagens para contar a história de Corumbá, que desempenhou papel importante na Guerra do Paraguai. Também visitamos o Moinho Cultural, uma escola com ênfase em arte, dança e música. Assistimos os ensaios de música e dança para a apresentação da escola no final do ano. Foi muito especial, e o Comodoro faz uma doação para ajudar o centro.
Antes de embarcar em nosso barco, eu também inspecionei o Kayamã, a outra embarcação deles com 25 cabines, consideravelmente maior que o Comodoro, muito confortável, ideal para um grupo privado.
A bordo do Comodoro, fui levado para minha cabine, dei um giro pelo barco e me encontrei com os outros convidados da inspeção no deck da piscina, onde um churrasco estava sendo preparado para nós, e uma dupla de cantores sertanejos completou o clima para o nossa partida. Eu sou original de Goiânia, onde esse tipo de música é muito popular, por isso foi uma agradável surpresa nostálgica. O plano de refeições do barco é all-inclusive, com café da manhã, almoço e jantar, alguns lanches, cerveja, uísque, vodka, vinho, caipirinhas e outros coquetéis disponíveis. No terraço e na sala de jantar havia uma geladeira de vidro onde os hóspedes podiam pegar bebidas enlatadas. Além das ótimas carnes - afinal, o gado é criado lá -, também provei algo novo e inesperado: o ceviche de piranha. Estava gostoso. Mais tarde, tivemos a primeira palestra para nos apresentar o itinerário e as atividades do dia seguinte. Isso se repete todas as noites na hora do jantar. A comida é saborosa, nada extravagante, mas bem feita, com pratos que você encontraria em uma casa brasileira. Havia sopas, carnes, aves, legumes cozidos, saladas e sempre algum com um toque regional. O barco viaja à noite, achei o motor um pouco barulhento, então usei um tampão de ouvido para dormir.
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Dia 3
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Como em qualquer programa de viagem na natureza, acordar super cedo é um fato. Sugeriram que acordássemos antes das 5h para assistir ao nascer do sol, então às 4h30 eu estava no deck da piscina porque sabia que isso seria mágico. A região onde passamos o primeiro dia estava na minha lista de desejos por um longo tempo. A serra de Amolar são as últimas ondulações do fenômeno geográfico que criou os Andes. É parte da razão pela qual o Pantanal concentra tanta água e tantos animais. Quando o sol sai, os tons de rosa, laranja e amarelo dominam o céu e refletem sobre esses monólitos gigantes, acompanhados por sons de pássaros acordando. O café da manhã foi servido na cobertura, para não perdermos esse espetáculo impressionante.
O passeio matinal foi um safari fotográfico de barco pelos corixos, pequenos canais que ligam os rios, lagos e baías do Pantanal. A maioria deles só é navegável durante a estação das cheias e, por serem estreitos, estamos mais próximos de animais como capivaras, jacarés, lontras, tartarugas e inúmeras espécies de pássaros à espreita nas margens. Nosso destino era a Reserva Privada Acurizal, onde um biólogo do Instituto Homem Pantaneiro nos fez um breve discurso sobre seus trabalhos de conservação e nos conduziu a 1 km de caminhada pela floresta, apontando curiosidades da flora e fauna. No final da trilha, alguns de nós remou de caiaque para a sede do Acurizal. Voltamos ao barco para almoçar, um banquete de peixes do Pantanal cozinhados de várias maneiras diferentes: inteiro assado, frito, grelhado, em ensopados e moqueca. Depois de uma pausa para descansar, nos encontramos novamente na sala de jantar para fazer chipas, um biscoito saboroso regional feito com polvilho e queijo curado.
Depois saímos para visitar o Parque Nacional do Pantanal, a maior reserva deste bioma. Paramos na sede do parque para registrar nossa entrada e receber instruções sobre o que veríamos. Aqui é proibido pescar ou caçar durante todo o ano, para que pudéssemos ver muitos animais no caminho para a colina Cará-Cará, novamente serpenteamos por vários corixos, até o local onde foram descobertas inscrições em pedra feitas por nativos de várias etnias que habitavam o Pantanal. Não é possível saber qual desenho pertence a qual grupo indígena, mas os estudiosos podem distinguir que eles foram criados por diferentes tribos. À noite, jantamos e recebemos informações para os passeios do dia seguinte.
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Dia 4
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Nosso dia começou com uma visita a uma comunidade ribeirinha no rio Paraguai Mirim. Fomos recebidos na casa de Zé Meleiro e Rosângela, pescadores de iscas para vender para pesca esportiva e coletores de mel. Zé não cria abelhas, ele procura colmeias selvagens das quais extrai o líquido. Ele nos deu uma prova para mostrar como as flores locais resultam em um sabor distinto. Continuamos rio acima em direção a uma baía, uma área de pastagem inundada que, devido ao seu tamanho, leva o nome de baía. O Paraguai Mirim tem trechos de águas cristalinas, era possível ver peixes e vegetação no leito do rio. Era a mesma coisa na baía onde paramos para nadar, por causa da vegetação no fundo, a água era muito limpa e transparente. Eles serviram petiscos e cerveja gelada enquanto admirávamos a vista e relaxávamos na leve corrente do rio. Para o almoço, comemos um churrasco na fogueira, nos jardins de outra comunidade ribeirinha, onde as mulheres fazem belos bordados de animais e paisagens do Pantanal.
Retornamos ao barco para descansar e sair no final do dia para assistir o pôr do sol de outra baía. No caminho, paramos para ver uma caverna de arenito escavada pela ação das enchentes e vimos uma sucuri gigante. Enquanto esperávamos o sol se pôr, um barco apareceu com um saxofonista. Ao longe, a chuva contrastava com o sol, uma cena pantaneira digna de uma foto. À noite, nossa despedida do cruzeiro foi um luau no deck da piscina, com música, dança e muita bebida, enquanto o barco voltava para Corumbá. De manhã, desembarcamos para o aeroporto.
O cruzeiro regular é uma excelente opção para conhecer o Pantanal alagado e, seguindo esse tema da água, siga de Corumbá até a Serra da Bodoquena para ver as cachoeiras (a 3,5 horas de distância) e continue até Bonito (1 hora), um dos melhores destinos de ecoturismo do Brasil, por causa das cavernas, rios e lagos de águas turquesas transparentes e cheias de peixes. Outra opção é combinar com um dos lodges do Pantanal, Caiman ou Refúgio da Ilha, que ficam a 3,5 horas de Corumbá. Os melhores meses para o cruzeiro regular são novembro e dezembro.
Para nossos clientes interessados em privatizar o barco, negociamos uma tarifa e um itinerário especiais. Em vez da primeira noite em Corumbá, o grupo embarcará no mesmo dia da chegada do voo, fará as mesmas atividades do cruzeiro aquático, mas no último dia, em vez de parar em Corumbá, o barco continua rio abaixo e os passageiros acordarão na Estrada Parque, onde um jipe adaptado levará todos em um safari fotográfico por terra, para um alojamento onde o almoço será servido e haverá opções para caminhadas ou passeios a cavalo pela fazenda. O luau acontecerá naquela noite, saindo da Estrada Parque em direção a Corumbá. Este itinerário também incluirá um passeio noturno de barco para observar os animais. Para grupos com mais de 30 pessoas, o barco Kayamã também pode ser usado para este itinerário, com 25 cabines e até 50 pessoas.
Apesar de não ser um barco de luxo, o Commodoro é muito confortável, bem equipado e bem conservado, oferecendo um itinerário interessante em uma região muito especial, com paisagens deslumbrantes, e é a melhor opção de cruzeiro regular no Pantanal.
Abaixo está um mapa interativo do itinerário que eu fiz. Clique na imagem para abri-la no Google Maps; em seguida, clique em cada ícone no mapa ou no índice para ver fotos e uma descrição da atividade ou do lugar visitado durante o cruzeiro.